Um homem que relançou o Mito.

sábado, 2 de julho de 2011

Hoje a família fusca silenciou seus motores em homenagem ao senador e ex-presidente da República Itamar Franco, que faleceuaos 81 anos neste sábado, em São Paulo.

Itamar Franco foi presidente da República entre 1992 e 1994, depois do impeachment do ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello. Itamar foi também governador de Minas Gerais, senador durante 16 anos, prefeito de Juiz de Fora por dois mandatos e embaixador do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Portugal e na Itália.

Como presidente, implantou o Plano Real, que estabilizou a moeda e acabou com a inflação, assinou a Lei dos Genéricos e a Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), que abriu caminho para a criação de programas de transferência de renda e em 1993 relançou nosso querido Fusca.Há 18 anos o Brasil entrava para a história do setor automotivo Mundial. Não por quebra de recorde mundial de produção ou lançamento de um veículo 100% nacional e revolucionário, mas sim por recolocar em produção veículo, após sete anos, o Volkswagen Fusca.

O mais curioso da história foi que ressuscitar o Fusca foi pedido di­reto do Itamar, e pe­dido de presidente não é pedido, é ordem.

O presidente anterior, a quem Itamar substituiu por impea­chment como seu vice, referira-se aos veículos de fabricação nacional como carroças e em visita ao Salão do Automóvel ao lado do Ministro Henrique Hargreaver, Itamar demonstrou um inconformismo pelo fato de o veículo mais barato do nosso mercado custar equivalente 23mil dolares. Foi ai que teve a idéia de marcar o seu governo com o lançamento de um carro que pudesse ser adquirido pela classe Média, um carro popular e não existia na época outro carro que representasse melhor essa idéia do que o fusca.

Há rumores que associam o pedido da volta do Fusca à então na­mo­rada do presidente, Lislie Lucena, pro­prietária de uma unidade ano 1981 e apaixonada pelo modelo. Itamar Franco, porém, preferiu não responder a este questionamento.

O protocolo do carro popular foi assinado em 4 de fevereiro de 1993: IPI simbólico de 0,1% para veículos com motor 1.0 litro atrelado a empregos, preço ao consumidor não maior do que o equivalente a US$ 6,8 mil e outras obrigatoriedades. Mas o Fusca não tinha motor 1.0, só 1.6. Para incluí-lo foi criada brecha: o limite de 1 mil cm3 de cilindrada valia só para motores refrigerados a água. A VW aproveitou o gancho e incluiu a Kombi, também refrigerada a ar, no protocolo.

O renascimento do Fusca foi logo visto pela imprensa como quase que piada de mau gosto: não faltou gente a afirmar, com certa propriedade, que o carro era ultrapassado, inseguro, gastão. Itamar respondeu na época: “O Fusca é o realismo brasileiro e não o sonho megalômano de uma modernidade equivocada”.

A engenharia recebeu o desafio de fa­bricar novamente um carro que deixara a linha sete anos antes e cujo ferra­mental já fora quase que totalmente vendido. A solução foi a mais simples possível: a VW passou a comprar partes do Fusca, inclusive as estampadas da carroçaria, de quem adquirira seu maquinário para produzir peças de reposição.

Havia espaço de sobra na Anchieta para montar o Fusca, que não utiliza solda em sua construção. E para testar as modificações no motor – ganhou catalisador e alternador – a empresa simplesmente comprou Fuscas em bom estado no mercado de usados e utilizou-os como mulas. Para tornar mais rápido o processo produtivo carroçaria e chassis passaram a ser pintados juntos.

Assim, em 23 de agosto de 1993, prazo enxugadíssimo, Itamar Franco reinaugurou a linha do Fusca na fábrica Anchieta, a bordo de um conversível azul-claro. Viveu seu dia de JK – não por coincidência sentou-se no mesmo lugar no banco traseiro ocupado por Juscelino na clássica imagem de 1959, inauguração da mesma fábrica. Este mesmo Fusca conversível azul está, hoje, na garagem do ex-presidente.

Quem mais levou a sério o renascimento do Fusca, por assim dizer, foi o marketing. A aventura de vender novamente o carro que a própria VW chamou, em 1986, de “descompassado tecnologicamente” foi visto como desafio pessoal por muitos. A agência de publicidade, que fez história com os anúncios da primeira vida do Fusca, também abraçou a causa com carinho.

O resultado final foram peças bem humoradas no melhor estilo da tradicional linha de publicidade do Fusca. Os slogans sorriam: Quer Luxo, Compre o Santana era um deles. Outra peça era propaganda às avessas, que citava dez razões para não comprar um Fusca – a décima: Se você é presidente da Fiat, Ford ou GM.

Até 1996. A carreira do Fusca ressuscitado foi curta. Apesar de certo sucesso na estréia – era um dos carros mais baratos do mercado, algo próximo a CR$ 700 mil – vendeu, na média, coisa de 1,5 mil unidades/mês, menos do que o necessário para cumprir o protocolo de 20 mil produzidos/ano.

Os apaixonados pelo carro levaram as primeiras unidades: a fila inicial, segundo a VW, foi de 13 mil pedidos. Mas logo começou a sobrar Fusca nas concessionárias e as vendas ficaram quase que totalmente concentradas em cidades do Interior e frotistas – consumidores preferiam Mille ou Gol 1000. Um ano após o lançamento a VW reduziu o preço em US$ 500. Em 1994 foram vendidos 18,4 mil Fusca, em 1995 17 mil e em 1996, de janeiro a abril, 4,1 mil.

Itamar Franco já não era presidente e o preço do Fusca estava próximo demais aos concorrentes: R$ 8,7 mil, enquanto o Gol 1000 geração 1 era vendido a R$ 9,5 mil, o Gol 1.0 geração 2 a R$ 11,3 mil e o Mille EP a R$ 11 mil.

Silenciosamente, de forma muito discreta e sem o menor direito a festa, quase que pela porta dos fundos, o Fusca saiu pela segunda vez da linha de montagem em junho de 1996. No total foram produzidos, em três anos, pouco mais de 46 mil unidades.

Os últimos 1,5 mil Fuscas foram batizados Série Ouro, com pequenos caprichos como farol de milha. Talvez espelhando o retrato de uma época não chamaram a atenção nem mesmo dos colecionadores.
Restou a tentativa e a felicidade de um ex-presidente que, neste 2008, garante ficar contente pelo fato de os modelos fabricados de 1993 a 1996 serem popularmente conhecidos como os Fusca... Itamar.

Assim encerramos mais um ciclo deste Mito. A história do Fusca seria diferente sem Itamar, e mesmo por um curto espaço de tempo, esses 3 anos de produção resultou em mais algumas unidades históricas desse ícone do automobilismo mundial.

É com pesar que a equipe Classic Fusca escreve um pouco dessa história, mas é com imenso prazer e saudosismo que relembramos um pouco desse homem que reviveu um mito.

Saudades refrigerados a ar,





2 comentários:

Rautemberg disse...

Demais o post!! "...homem que reviveu um mito." Lindo! Parabéns pelo blog!!

Base Quatro disse...

Obrigado por seu elogio Rautemberg!

Te espero em Tiradentes,


Abraços

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